sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Reviravolta



Ontem eu desabei! Ontem eu caí onde não tinha mais chão, num buraco sem paredes, num espaço que não conhecia. E senti-me tão intensa que não sei se consigo descrever. Um tanto de coisas se passaram na minha cabeça. Fritei. Chorei. Borrei.

Fiquei borrada, com cara de cera, coisa mal passada e mal dormida. Pão de ontem. Fiquei em posição fetal. A posição fetal mais feto de toda a minha vida. Sem mãe. Só um bebê desesperado, fungando, sofrendo e chorando, num soneto de separação.

Ontem tive que ouvir inúmeras vezes que “não, Carol, não dá mais”, “não gosto como gostei antes”, “não sei quando o encanto acabou”, “não chore”, “somos muito diferentes”, “não, Carol, não dá pra continuar, nem dá pra mudar, não dá”. E ouvi frase como uma facada no peito. Porque não dá mesmo. Porque é tudo verdade. Ouvi com sofreguidões mil cada “não”. Padeci ao ouvir que a decisão estava tomada há dois dias e que seria assim e pronto. Padeci. Borrei. E não tive vergonha ao insistir “mas não tem mais jeito?” e escutar o que nem sei se queria ouvir. Dei-me o direito de ser menina imatura e descontrolada tamanha verdade dolorida que escutava. Dei-me o direito de sentir “fracasso”, reincidente. Borrado.

Escutei o velho bordão “você prefere que eu minta?” e chorei. E desliguei o telefone e chorei. E liguei de novo. E de novo. Borro. Fadada ao insucesso ali. Moça que parece uma coisa e é outra.

Como? Será que sou tão “capa” assim? Será que vivo é vendendo meu peixe pra ser amada? Será que me escondo porque me encontrar dói? Será que sou tão carente assim e preciso da aprovação do outro pra me aceitar?

Já sabia, mas ontem comecei a enxergar. Eu olho pra fora. Evito olhar pra dentro. Tenho medo.

UFA! COMO É BOA A LIBERTAÇÃO!

Tenho medo. Não acredito tanto em mim quanto devo transparecer. Não sou tão forte assim, tão independente assim, tão dona do meu nariz, tão madura. Nãooooooooooooo! Não sou. Gosto um pouco de ser a “mulher de verdade, que não tem qualquer vaidade”. Gosto de ser cuidada. Gosto de ser pequenininha. Mas também gosto de um scarpin 10 cm, um decote, uma sandália rasteira e um samba, uma liberdade comedida, diferente da liberdade perdida. “Eu quero a sorte de um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida...”. Quero minha loucura na normalidade que de tão única vire verdade.

Ontem foi sofrido, doloroso, me abriu rasgando tudo e me deixando sem pele, exposta, aberta, jogada, borrada. E isso, enquanto doía profundamente, libertava-me aos poucos.

Ontem foi FODA! Entendi a briga que é travada por mim mesma, dentro de mim. Aquele negócio que tanto tenho falado das “lágrimas pretas na face”. Uma luta entre meu EU e meu EU. Nada de anjinho e capetinha. Sou eu ocupando muito espaço dentro de mim e fugindo porque não caibo. E na fuga fico colocando mais coisa, mais gente, mais problemas dos outros, mais “cuidar do próximo”, mais ELE, o outro, e pouco EU.

Ontem recebi socos e pontapés e muitas facadas ardidas. Deixei ser assim. Não foi a faca que veio a mim. Eu que deixei que as verdades tivessem pontas afiadas e me marcassem com dor. Eu dei a cara à tapa para minha própria mão. Ou a mão do outro que a minha guiou até minhas bochechas tensas.

Ontem eu levei uma surra. E chorei tanto que descobri que as lágrimas limpam e clareiam a visão. Aí percebi o quanto isso tudo tomava espaço de outras coisas, pessoas, fatos e um tanto de outras.

Hoje, dolorida e ainda chorosa, me convenço que meu maior medo é o de “ficar só”. E transfiro isso para o outro de modo que fica “pesado”. E o outro nada tem haver com este peso. E não carrega a minha bola de neve. E acabo recebendo-a de volta, maior ainda.

Agora estou me preparando para deixá-la cair. E seguir. Porque tenho que ir. Não tem volta, né?

Uma coisa muito linda me aconteceu hoje. Meu filho acordou com um bom humor que nunca vi. E me falou assim: “Mãe! Quero aproveitar TODOS os minutos desta sexta-feira. Porque não vou te ver mais hoje.”. Tínhamos 20 minutos. Tomar café e ir pra escola. Eu não correspondi. Mas voltei a sentir uma ternura gostosa ao vê-lo me abraçando e pedindo beijo. Isso não acontecia porque o espaço estava tomado por outras coisas menos importantes, mas que precisavam ser vividas. E foi muito maravilhosamente bom voltar a sentir o maior amor da minha vida, meu presente de Deus, meu moleque, meu AMOR-MAIOR-DO-MUNDO-QUE-NÃO-TEM-COMO-EXPLICAR-SÓ-VIVER!

Ahhhhhhhhhhhh! Delícia.

E hoje começo a enxergar melhor... Clareia à medida que choro. E entendo que cada coisa está num lugar e mistura-las faz rolar uma “confusão mental”. Primeiro isto e depois aquilo. O passo conforme a perna, o frio conforme o cobertor.

E, pô@##%#&*!!! Ainda tenho uma vontade estranha de chorar de alívio, de querer paz no coração, de ser melhor, de agradecer a Deus. Quer saber porquê? É verdade mesmo:

EU PEÇO A DEUS PRA SER FELIZ E O BENDITO EXAGERA!!!

Obrigada.


By Carolina Bahasi
31 de outubro de 2008
11:25 h

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