sábado, 28 de fevereiro de 2009

Drummond para inspirar as flores


Carlos Drummond de Andrade


(...) Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.

(...) E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.

(Resíduo)

2 comentários:

Fernanda Magalhães disse...

Drummond é perfeito!

Bela escolha.


Bjos de luz!

Bailarina disse...

E a memória às vezes se torna um carrasco terrível e sanguinário...

...Torturando com lembranças do que não se pode viver mais.

Salve Drummond!