terça-feira, 30 de junho de 2009

A História da Escada Rolante

Então tá. Eu conto.

 

Foi assim oh:

 

Tia Carol subindo as escadas rolantes do Shopping Cidade. Acorda desde às 3:30 da madruga. (dia de dar entrada no seguro desemprego). Já eram umas onze e meia da manhã. Eu cortava caminho por ali para ir à casa de uma amiga, Xábalas, dos tempos de faculdade.

 

Tia Carol. Distraída. Com uma sacola enorme pendurada na mão direita. Vestido longo com melissas e meias... aff. Tava muito frio de madrugada.

 

Eis que a escada rolante que antes estava somente em inércia em relação ao meu corpo, começa a me sugar. Ela queria me comer, imagino. Nos meus sonhos de crianças este seria o único motivo pra tentar me maltratar, me deixar maltrapilha, envergonhada e semi couraçada.

 

Eu distraída, gente... Lógico que só percebi que estava sendo mastigada com ketchup um mês depois. Foi quando senti que estava entortando para a esquerda. Foi aí que vi. Meu lindo vestido novo, preto e cinza, com florzinha e tudo mais, menos de um mês de uso, todo bonito... Estava nos caninos da devoradora.

 

- Ai, socorro! – falei (alto ou baixo, nem sei).

 

E pus-me a tentar me livrar daquela que fazia de mim uma presa.

 

- Ai, ai, saco, bustica, p@rra, c@ar@lho! – fui ficando nervosa.

 

Rolei até o fim da escada. As pessoas que estavam atrás de mim tiveram que pular como se brincava de “pular o toco” quando eu era menina. E virei um toco, um murinho que dizia palavrões e era consumida pelo bicho eletrônico. E as pessoas me pulavam. Rá. Me pulavam mesmo. Riam de mim, me desejam sorte...

 

Aí o meu querido Alessandro, o segurança, apareceu na minha frente e disse CHEGA! Mandou embora até o rapaz solidário que tentava me ajudar a sair daquela enrascada e puxava sem dó o meu pedaço de pano e acabou virando toco também. Por causa dele, coitado, as pessoas começavam a saltar por cima de nossas cabeças, tropeçar, pular para o outro lado da escada (a que estava descendo) e foi aquela loucura.

 

Alessandro parou a escada, pegou seu rádio transmissor e disse em alto e bom som: “Escada VMS3. Travada. Mande o BOMBEIRO com as ferramentas para tirarmos uma moça agarrada aqui.”.

 

Pronto. Aí eu era a moça agarrada ali. Fizeram rodas em minha volta e pessoas curiosas tiravam fotos! Eu era a atração surpresa do shopping. Chega o bombeiro. BOMBEIRO, gente. Ele desparafusa a boca da cobra eletrônica. Nada. Desparafusa os lados. Nada. Empurra, abaixa, sobe, desce. E eu lá. Já tão engolida que não dava pra ficar de pé. Eu sentadinha lá esperando a cirurgia de emergência naquela enorme planta carnívora.

 

As pessoas já chegavam para almoçar. O fluxo era grande e tinha gente chegando perto pra ver se via sangue. Abaixei a cabeça e liguei pra Zóin. “Adivinha onde estou?”. Até parece que ela ia dizer: “Ah... Já sei! Você está sendo extraída como cárie da boca de uma escada rolante?”. Não. Ela só riu. E muito. E eu também. Fazer o quê? Já quase dentro da barriga da baleia do Pinóquio. Adiantava chorar?

 

Aí mais algumas manobras radicais. Eu tinha que me segurar no BOMBEIRO, o que era um tanto quanto desconfortável, pois ele era do tamanho da palma da minha mão. E vai pra baixo, solta mais um pouquinho, sobe de novo... E meu pobre vestido sendo mastigado e regurgitado. Mais um pouquinho e... PAM! Saiu a menina. Aê! Palmas, gente. Bateram palmas. Não sei se pra mim ou se para o litlle BOMBEIRO. Mas várias palmas. Fazer o quê? Me abaixei como se fosse Marieta Severo no palco e agradeci.

 

Fui-me embora com o vestido rasgado e carcomido. Eu inteira. Mais inteira, na verdade. Mais uma história pra contar. Pena Crisbela não estar por lá pra ver e registrar com mais detalhes. Ela tornaria isso tudo numa história de pescador, com certeza.

 

Mas é isso, pessoas. Só pra dizer que estou me recuperando bem. O vestido, porém... Ficou com graves seqüelas. Nunca mais será o mesmo.

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