quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Acredite, ela é tímida!

Ágata foi uma criança alegre, apesar dos muitos problemas familiares. Criada pela avó materna, foi sustentada à danoninho e macarrão na manteiga. Quando adolescente, muito inteligente, tinha as melhores notas e nenhum menino se interessava por ela, apesar de ouvir de todos os adultos que era linda. Ela, claro, não acreditava. Nesta fase não interessa a opinião dos adultos, apenas do seu grupo, da sua tribo.
Ágata não tinha tribo. Se tinha, não sabia. Talvez fosse da tribo dos nerds que sentam na primeira fileira, tiram as melhores notas e lancham isolados na hora do recreio. Mas não poderia ser. No quesito amizade ela sempre foi boa. Era amiga de quase todos da turma, principalmente dos meninos. Porém, ficava só na amizade mesmo. Aos 12, 13 anos ouvia suas amigas contando sobre seus primeiros beijos e namoradinhos. Ágata só escutava e, às vezes, fantasiava como verdadeiros os seus pensamentos. Ela era extrovertida demais para admitir que ainda era ‘virgem de boca’.
Começou a gostar muito de rock aos 14 anos, quando sentiu (inconscientemente) que precisava de uma tribo para construção de sua identidade. Cabelo enorme partido ao meio, saia longa, bolsas de linho e brincos feitos à mão por algum hippie da Praça Sete. Ágata ainda não percebia, porém, bem mais magra e tomando formas de mulher, começou a chamar atenção dos marmanjos. Cada vez mais falante, gesticulante e cheia de amigos, continuava tímida com os meninos. Acreditava que nenhum deles se interessaria por ela, pois ainda se achava um patinho feio. Finalmente, aos 15 anos, no baile de sua amiga de infância (que já estava grávida, mas ainda não sabia), foi quase forçada a beijar o menino mais bonito que tinha na festa e que não tirava os olhos dela. Suas amigas nunca souberam que aquele foi o seu primeiro beijo.
Aos 16, já convicta de que era bonita e desejada, se apaixonou. Típica paixão adolescente arrebatadora. Nos quatro anos que se seguiram, Ágata fez algumas besteiras – das quais não se arrepende e até se orgulha – e aproveitou tudo o que podia e, nem sempre, devia. Juízo ela sempre teve, só esquecia em casa de vez em quando. Aos 20 anos se casou com o bendito juízo. Responsabilidades mil surgiram: faculdade, namoro (que ela tanto fugia), morar sozinha, contas...
Hoje, prestes a se formar, solteira, completamente independente e quase uma mulher-bem-resolvida, Ágata continua tímida quando a pauta são beijos e afins. A única vez em que se atreveu a demonstrar que tava afim de alguém não houve reciprocidade (palavra que ela adora!). Por isso ela vai, novamente, deixar o juízo em casa. Vai colorir os pensamentos e sambar até sentir as pernas doces e a boca seca!

Aline Lua
03/12/08 – 11h

3 comentários:

Liz disse...

Adorei a moça!!! Acho que eu seria amiga dela se a cohecesse...

Silvana Bronze disse...

Lindo! muito bem escrito, parece vivo!
Lino nome do blog também. Estou a ler teus outros textos.

Jairo Borges disse...

Nossa! Gostei daqui!
este blog tem um tom tão doce! mt bonito!
agora.... para a Ágata, só desejamos q ele tenha um pouco mais de auto confiança qnd o assunto são os homens!
abraços!